“Music is my sancturay / Music is my life”
A citação acima é extraída de uma canção do lendário saxofonista Gary Bartz, mas pode muito bem se aplicar à filosofia e a entrega que ditam os dias do doutor aqui.
Dr. Drumah é a alcunha usada pelo baterista baiano Jorge Dubman enquanto produtor de beats de rap. Conhecido como integrante da banda IFÁ, ele tem já um longo histórico junto aos samplers e drum machines. Entre álbums, EPs e singles, somam-se dezesseis títulos. 16 toneladas!
No entanto, esse novo lançamento se distingue da manada, desde as origens. Foi cozido em panela de pressão. Por um lado, há tempos haviam as ‘espetadas’ dos amigos por um trabalho dedicado à musicalidade orgânica. Por outro, o onipresente fator pandêmico e todas as limitações consequentes, que apontaram pra Lei Aldir Blanc, das poucas opções de renda para os profissionais da cultura nesse período.
Uma vez aprovado o projeto, Jorge olhou à sua volta em busca de todas as ferramentas disponíveis no ambiente caseiro, visto que sair para gravar em estúdio não era uma possibilidade. Foi quando sua vasta coleção de áudio se fez valer. Acontece que, ao longo de quase trinta anos de estrada, Drumah acumulou trechos melódicos de Piano Rhodes, Farfisa, entre outros, além de loops de bateria e percussão gravados por ele mesmo, geralmente ao final das tantas sessões alheias das quais participou vida afora. Munido desse conteúdo, e do aparato típico dos discípulos do saudoso J. Dilla, ele criou a espinha dorsal do disco.
Inspirado pelo gesto do artesão-referência Madlib, que abriu mão do controle total no processo do seu recém-lançado Sound Ancestors, Dubman também deixou espaço para a contribuição de comparsas. Numa lista longa de colaborações, se destacam os nomes de Mauricio Fleury (Bixiga 70, Gal Costa), do hungaro Szabi Bognar (Àbáse Solqlap Budapest, Mabon Dawud Republic) do milianos Fabrício Mota (baixista do IFÁ), Junix 11 (Baiana System), e do Continentrio, formado por Kiko Continentino (Azymuth, Milton Nascimento), junto a seus irmãos Alberto e Jorge (Forró In The Dark).
Com influências como The Helliocentrics, Adrian Younge, o material instrumental dos Beastie Boys, library music , Tommy Guerrero e as trilhas sonoras dos filmes blaxploitation da década de 70, Dr. Drumah entrega um genuíno disco de produtor. A proposta é demonstrar a amplitude de composição que se pode alcançar pelo trilho da mentalidade de um beatmaker, especialmente aqueles que miram avante e escolhem sair da zona de conforto.
Trata-se assim de um LP com alma de hip hop, realizado com instrumentação ‘tradicional’, de forma espontaneamente analógica, sob a batuta do Nu-Konduktor. Aliás, vale mencionar ainda que esse título vem de outro codinome do artista. Assim batizado pelo rapper ganês Blitz The Ambassador, faz jus a um músico que extrapola o papel rítmico, se tornando de fato um condutor. Parafraseando James Brown, “give the drummer some”!
☆☆ Resenha por Rodrigo Brandão ☆☆
01. Glória Celeste 03:00
02. El Camino del Sol 04:45
03. Midnight Spy 02:31
04. Cosmic Echo 03:40
05. Desert Scorpion (Deathstalker) 03:59
06. Mixing Emotions 03:50
07. Temaluna (Feat. Continentrio) 06:33
08. Estágio Final 03:27
09. Hey, Deejays! 02:49
10. Ladies' Theme 03:13
11. Midnight Spy Pt. II (Interlude) 01:46
Disponível na íntegra para audição via:
Bandcamp.
O ÁLBUM NU-KONDUKTOR FOI GRAVADO DURANTE OS MESES DE JANEIRO A MARÇO DE 2021, DURANTE A PANDEMIA DO CORONA VÍRUS, RESPEITANDO TODOS OS PROTOCOLOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE.
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