Em 2005, Mauritsstadt dub saía pelo Candeeiro Records, pequeno e
significativo selo pernambucano. Álbum duplo que até hoje não teve seu
reconhecimento merecido, trata-se de uma compilação que vê e revê a música de
rua do Recife e de seus arredores. O projeto faz conexão entre 10 mestres
populares e uma rede de produtores musicais contemporâneos da cidade, além de colaboradores
de São Paulo e Nova York.
Alteradores de Estado em Mauritsstadt Dub Vol. 1 (2005)
Disco 1/Versão Roots:
01. Forró de Aliança - Mestre Salustiano
02. Toada de Cavalo Marinho - Boi Brasileiro de Itaquitinga
03. Quem me Deu Fui Lia - Lia de Itamaracá
04. Recife D'Água - Zé Neguinho do Coco
05. Roda, Rodete, Rodeando - Caju e Castanha
06. Música de Cabloco Tocada no Pifano - Banda de Pífanos Dois Irmãos
07. Juntando Côco - Dona Clida do Côco
08. O Passarinho - Seu Bezerra
09. Na Mais Alta Montanha da Saudade Te Espero com Toda Paciência
10. Macaco - Naná Vasconcelos
Disco 2/Versão Dub:
01. Forró de Aliança - Mamelo Sound System
02. Toada de Cavalo Marinho - Scott Hard
03. Quem Me Deu Foi Lia - Pupillo
04. Recife D'Água - DJ Dolores
05. Roda, Rodete, Rodeando - Kassin e Berna Ceppas
06. Música de Cabloco Tocada no Pifano - Capenga Sample
07. Juntando Côco - Instituto
08. O Passarinho - Fred Zero Quatro e Buguinha Dub
09. Na Mais Alta Montanha da Saudade/ Te Espero com Toda a Paciência - Apolo 9
10. Macaco - Fábrica
Bônus Track:
11. Forró de Aliança - Arto Lindsay e Melvin Gibbs
LEIA!
O título faz referência à Cidade Maurícia – ou Recife à época da ocupação
holandesa (1630-1654) –, ocasião em que os pernambucanos experimentaram pela
primeira vez o cosmopolitismo e o uso avançado da tecnologia. Além dos resquícios
arquitetônicos do Brasil holandês, a reconquista entrou no imaginário como
recordação de um tempo fabuloso e quase mítico, como aponta o historiador
Evaldo Cabral de Mello.
Mauritsstadt dub é mão e contramão. Recife de dentro pra fora. Olhares
voltados para si e para o mundo. A Mauriceia que se divide entre a tradição
musical das ruas e a música das máquinas.
Em meados dos anos 2000, o álbum revelava uma nova maneira de registrar
e se relacionar com os artistas populares. Sessões de gravação em estúdio “pop”
colocavam esses músicos em outra categoria. Depois, os “ecos” de sua música,
revista e sampleada por um time de notório conhecimento.
Sem falar na ideia de ter o dub como ponto de partida para a recriação,
evento que faz conexão a outros periféricos americanos ou a uma pequena ilha no
Caribe, onde o “duplo” foi inventado nos anos 1960 a partir do emprego de baixa
tecnologia.
O objetivo do disco é colocar lado a lado artistas populares e representantes
(de peso) da música pop. “Era uma forma da gente tirar essas pessoas daquele
estigma de que o artista popular tem que ficar no interior, na sua casinha e
vivendo de outras coisas. A gente tentou mudar isso com a cena dos anos 90, com
o manguebeat. A gente tentou resgatar essas pessoas e mostrar para o mundo que
essa cultura pode transitar tranquilamente pelo universo pop”, diz Pupilo,
percussionista da Nação Zumbi e um dos produtores do álbum, em entrevista ao
programa veiculado originalmente em abril de 2005.
“Isso é coisa do desenvolvimento da cultura popular”, diz Mestre Salu
(1945-2008), ícone do movimento mangue. “Eu mesmo não esperava que a cultura
popular fosse chegar no nível que alcançou hoje. O povo pesquisando, gravando e
tocando nas melhores rádios dos Estados Unidos, do exterior, e fazendo
sucesso”, avalia o “Mestre de Chico Science”, em longo papo que travado em
Garanhuns em julho de 2001.